Olá! Esse é o boletim #23 da revista USINA!
Mensalmente enviamos uma seleção de conteúdos da revista USINA, como entrevistas, ensaios, artes visuais, instantâneos, poesia e tudo mais.
Nessa edição: a tradução da introdução do livro “Radical Gardening” de George McKay, o filme experimental “Free Radicals” de Len Lye, o álbum “Tuyabaé Cuaá” do músico e dramaturgo paraense Walter Freitas, fotografias da série “trigramas” por Vitor Faria e um conto de Thomas Ilg.
Nesse início de ano, gostaríamos de contar com a sua colaboração respondendo esta breve pesquisa:
Agradecemos pela participação!
Tradução
Radicalismo na Horta – Política, Idealismo & Rebelião na Horta
“Radicalismo na Horta viaja por uma rota alternativa, através da história e da paisagem, lembrando-nos da ligação entre propagação e propaganda, entre romã e granada. Pois a vida cotidiana da horta não é somente terraço, churrasco, cercas brancas, topiaria, muro de plantas…. Esse livro entrelaça a história da horta com a da contracultura, estórias de plantas individuais com discussões sobre o uso da terra e política pública, a história social de grupos de propaganda com o prazer de mãos sujas na terra, ao lado de referências da mídia, do pop e da arte, para apresentar uma visão alternativa das hortas e da jardinagem. (…)
Radicalismo na Horta é sobre a ideia de ‘trama’, e seus significados alternativos, mas entrelaçados (são três). Muitas das tramas que vamos explorar são inspiradoras, e permitem que enxerguemos na prática como noções de utopia, de comunidade, de ativismo para transformações sociais progressistas, de paz, de política identitária, são trabalhadas na horta, na floricultura e através do que Paul Gough chamou de “plantar como uma forma de protesto”. Mas nem todos – alguns conscientizam, ou assustam, por que dentro do território do “politicamente radical” existiram e continuam a existir experimentos sociais e articulações que invertem nossas expectativas positivas da troca humana que ocorre no espaço verde da horta.”
Cinema
Free Radicals - Len Lye
“Free Radicals” é considerado um dos principais trabalhos do artista neozelandês Len Lye (1901-1980), pioneiro da animação experimental e das esculturas cinéticas na primeira metade do século XX. Apaixonado pelo movimento, Len Lye desenvolveu ao longo dos anos 30 uma série de animações abstratas em que explora cores e ritmos através da intervenção direta na película, sem precisar de câmeras.
Em “Free Radicals”, ele reduziu o meio cinematográfico aos seus elementos mais básicos – luz na escuridão – fazendo riscos na película preta e branca com uma variedade de ferramentas, desde agulhas até pontas de flecha e aparelhos dentários. O resultado é tão impressionante quanto fundamental, principalmente ao sincronizar as imagens com uma fita de campo da tribo Bagirmi, da África Central, fazendo com que os tambores e cantos potencializem os arranhões, tão dramáticos quanto um raio no céu noturno.
“Free Radicals” é uma expressão poética magistral da investigação de toda uma vida com o movimento, como uma celebração da energia. O título do filme, inclusive, é uma referência à física moderna – “radicais livres” são partículas de energia – enquanto os rabiscos, por sua vez, nos remetem aos primórdios da vida, expressando sentimentos e pulsões de forma icônica.
Música
Tuyabaé Cuaá - Walter Freitas
“Tuyabaé Cuaá”, que em tupi significa “A sabedoria dos antigos pajés”, é o primeiro álbum do músico e dramaturgo paraense Walter Freitas e, com certeza, uma das experiências mais radicais da canção brasileira. Uma obra rara que através da união de música e literatura nos transporta para o universo amazônico, narrando suas histórias e paisagens com a variedade de ritmos e dialetos que as compõe. Um trabalho impecável e surpreendente à cada escuta, desde os arranjos à interpretação vocal do autor, que contou com a parceria dos poetas João Gomes e Antonio Moura em algumas composições.
Gravado em 1987 e lançado em 1988 pelo selo Outros Brasis, este álbum foi fruto de um longo tempo de estudos e experimentações em busca de uma linguagem genuína. A trajetória de Walter como ator e escritor foi determinante nesse sentido, fazendo desse disco uma espécie de poesia cantada ao recriar a oralidade cabocla da região, algo semelhante ao que Guimarães Rosa fez em “Grande Sertão: Veredas”. Mas, apesar desta também ser uma grande influência, em “Tuyabaé Cuaá” a principal referência literária foi o conterrâneo Dalcídio Jurandir, autor de um conjunto de 10 romances conhecidos como Ciclo do Extremo Norte.
Devido a peculiaridade das composições, no encarte original do LP as letras estão acompanhadas de um glossário e uma apresentação geral que explica o uso de acentos específicos, o que ressalta ainda mais a natureza híbrida desta obra. Em 1998 o álbum foi relançado em CD e em 2024 ganhou uma nova edição em vinil pelo selo Discosaoleo, mesmo ano em que Walter Freitas lançou seu segundo álbum “car’naúba, a’e t’o-gûatá”.
Fotografia
Fogo - Vitor Faria
Esta seleção de fotografias faz parte da série “trigramas” (em construção), dedicada à registrar os 8 elementos da natureza de acordo com o I Ching, antigo oráculo chinês que através da combinação de linhas sistematiza a constante mutação do universo.
Literatura
Casa Verde - Thomas Ilg
“Onde eu cresci com meu irmão em uma casa ao norte do estado: onde as árvores fazem muita sombra e caem por cima das casas – deixando tudo bem úmido lá dentro – e pelo extenso gramado que se deitava por todo o terreno a gente sempre corria e pulava em cima de árvores que ficavam solitárias, cada uma sozinha descansando em cima da terra – porque se sabe que embaixo de árvore é onde grama não gosta de ficar; tem dessas coisas de ser muito frio lá embaixo – mas também era onde nós dois montávamos as nossas cabeças em ideia de construir com barro as nossas cidades, e de vez em quando nós íamos de bicicleta até o mercado e recolhíamos milhares de caixas para poder fazer construção de papelão e ficar lá dentro, às vezes até de fazer cidade inteira de papelão, com vários prédios altos, com escadas extensas que não terminavam jamais. Até a hora que papai gritava lá da varanda dizendo que ia chover e que era melhor nós corrermos para dentro. “E que nada pai, aqui dentro de caixa não chove não”, mas ele insistia até nós ficarmos aborrecidos e ignorarmos ele, que então dava de ombros e voltava para dentro de casa, sabendo que depois quem viria a ser o sábio era ele.”
E segue aberta a pré-venda da reimpressão de "Vistos de cima, parecemos um pássaro", livro de Carlos Meijueiro que reúne crônicas realistas e amorosas sobre a vida no Rio de Janeiro.
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O que é a USINA?
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