Olá! Bem vindo ao boletim #19 da revista USINA!
Mensalmente enviamos uma seleção de conteúdos da revista USINA, como entrevistas, ensaios, artes visuais, instantâneos e tudo mais.
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Nessa edição: a segunda parte da tradução do ensaio do arquiteto Peter Zumthor, um conto de Natalia Furtado, uma coletânea da produção paulista de chorinho, montagens de Manon Bourgeade e um poema de Ceci Penido e Maria Carolina Werneck
Arquitetura
Uma Visão das Coisas (Parte 2) - Peter Zumthor
Traduzido por Thomas Ilg
Texto publicado no livro Architektur Denken, da editora suíça Birkhäuser. “Eine Anschauung der Dinge” é uma palestra proferida em 1988 no Southern California Institute of Architecture.
Nota do Tradutor
A USINA traduziu a versão em inglês “A Way of Looking at Things”, de Maureen Oberli-Turner, (Birkhäuser, Estados Unidos), do texto original. Mas também utilizou a tradução em espanhol “Una intuición de las cosas”, de Pedro Marigal (GG, Espanha), e a versão original em alemão “Eine Anschauung der Dinge” (Birkhäuser, Suíça) para poder chegar em algo mais próximo ao texto original.
Apesar de existir uma versão em português (GG, com tradução para português de Portugal), a USINA resolveu fazer uma tradução pessoal, a fim de colocar disponível ao público brasileiro um texto que é, senão seminal para a arquitetura contemporânea, extremamente relevante para o pensamento fenomenológico arquitetônico. Um texto que não tem pretensões de se dirigir ao corpo mais intelectual da arquitetura, mas a qualquer um que se ponha disponível a desenvolver uma visão sensível a este campo de pensamento e produção.
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Nascido na Suíça em 1943, Peter Zumthor obteve formação e atuou como marceneiro por alguns anos até estudar arquitetura e se formar em 1970*. É um dos arquitetos mais relevantes em atuação, laureado com o Pritzker em 2009. Sua obra não tem a monumentalidade que se tornou critério na arquitetura contemporânea, pelo contrário, ela é motivada por sutilezas e detalhes que evocam a sensibilidade que o autor aborda tantas vezes nessa palestra. Existe uma aura mística em torno da sua figura: trabalha com um pequeno número de colaboradores em sua casa-escritório em Haldenstein, Suiça, um vilarejo de menos de 1000 habitantes. Com a mesma sensibilidade que a descreve, Zumthor exerce a profissão.
A palestra transcrita para texto levanta uma série de temas que Zumthor considera relevante para a produção ou fruição de uma obra arquitetônica. Organizada em 16 temas, a USINA dividiu em duas partes, contendo 8 temas cada.
Se ainda não leu, leia a PARTE I.
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PARTE II
A tensão dentro do corpo
Entre todos os desenhos feitos por arquitetos, meus favoritos são os de projeto executivo. Eles são detalhados e objetivos. Criados para os artesões que devem dar uma forma material ao objeto imaginado, eles estão livres de manipulação associativa. Eles não tentam convencer ou impressionar como os desenhos de projeto. Eles parecem estar dizendo: “Vai ser exatamente assim.”
Projetos executivos são como desenhos anatômicos. Eles revelam algo da tensão interna secreta que o corpo arquitetônico final reluta a mostrar: a arte da junção, a geometria oculta, a fricção dos materiais, as forças internas dos suportes e apoios, o trabalho humano que é inerente as coisas feitas pelo homem.
Per Kirkeby (1) fez uma vez uma escultura de tijolos com a forma de uma casa para a exposição Documenta em Kassel. Não havia entrada na casa. Seu interior era escondido e inacessível. Permaneceu como segredo, o que lhe dava uma aura de profundidade mística para as outras qualidades do escultor.
Eu acredito que as estruturas e construções escondidas de uma casa devam ser organizadas de um jeito que atribuam ao corpo da arquitetura uma qualidade de vibração e tensão interna. Dessa forma que os violinos são feitos. Eles nos relembram sobre os corpos vivos da natureza.
Verdades inesperadas
Durante a minha juventude eu imaginava a poesia como um tipo de nuvem colorida feita de alusões e metáforas mais ou menos difusas que, apesar de poderem ser agradáveis, eram difíceis de associar com uma visão de mundo confiável. Como arquiteto, eu aprendi a entender que o oposto dessa definição juvenil de poesia está mais provavelmente próximo da verdade.
Uma obra de arquitetura pode possuir qualidades de uma obra de arte se suas formas e conteúdos confluam em uma atmosfera capaz de nos comover. No entanto, essa arte não tem nada a ver com originalidade ou configurações interessantes. Ela está preocupada com percepções e entendimentos e, acima de tudo, com a verdade. Poesia talvez seja verdade inesperada. Ela vive na imobilidade. A tarefa da arquitetura artística é dar forma a essa expectativa imóvel. O edifício por si só nunca é poético. No mais, pode ter qualidade sutis que, em alguns momentos, nos permite entender algo que nós nunca fomos capazes de entender desse jeito antes.
Desejo
O desenvolvimento claro e lógico de um trabalho de arquitetura depende de critérios racionais e objetivos. Quando eu permito que ideais mal concebidas e subjetivas intervenham no curso objetivo do processo de projeto, eu percebo a importância dos sentimentos pessoais no meu trabalho.
Quando arquitetos falam sobre seus edifícios, frequentemente o que dizem está em desacordo com o que contam os próprios edifícios. Isso provavelmente está relacionado com o fato de que os arquitetos tendem a falar mais sobre os aspectos racionais dos seus trabalhos, e menos sobre a paixão secreta que os inspira.
O processo de projeto é baseado na constante troca entre sentimento e razão. Os sentimentos, preferências, anseios e desejos que aparecem e demandam por se tornar uma forma devem ser controlados por poderes críticos de raciocínio, porém, são nossos sentimentos que nos dizem quais considerações abstratas nos soam verdadeiras.
Em grande medida, projetar está baseado em entender e estabelecer sistemas de ordem. No entanto, eu acredito que a substância essencial que procuramos provém de sentimento e inspiração. Momentos preciosos de intuição são resultados de trabalho paciente. Com o repentino surgimento de uma imagem interior, uma nova linha em um desenho, todo o projeto muda e é reformulado em uma fração de segundo. É como se uma droga poderosa estivesse de repente surtindo efeito. Tudo que eu sabia anteriormente sobre essa coisa que eu estou criando é inundado por uma nova luz brilhante. Experiencio alegria e paixão, e algo no meu âmago parece afirmar: “Essa é a casa que eu quero construir!”.
Compondo no espaço
A geometria é sobre as leis das linhas, superfícies planas e corpos tridimensionais no espaço. A geometria pode nos ajudar a entender como lidar com espaço na arquitetura.
Na arquitetura, existem duas possibilidades básicas para a composição espacial: o corpo arquitetônico fechado que isola o espaço dentro de si mesmo, e o corpo aberto que abraça uma área de espaço que está conectada com o contínuo sem fim. A extensão do espaço pode se tornar visível através de corpos como lajes ou postes posicionados livremente ou em fileiras na extensão espacial do cômodo.
Eu não alego saber o que realmente é o espaço. Quanto mais penso sobre isso, mais misterioso se torna. Sobre uma coisa, no entanto, eu tenho certeza: quando nós, como arquitetos, estamos interessados no espaço, nós estamos interessados em uma pequena parte que é a exceção do infinito que rodeia a terra. Porém, todo e qualquer edifício marca um lugar único nessa infinitude.
Com essa ideia presente, eu começo a esboçar as primeiras plantas e cortes do meu projeto. Desenho diagramas espaciais e volumes simples. Tento visualizá-los como corpos precisos no espaço, e eu sinto que é importante sentir exatamente como eles definem e separam uma área do espaço interior do espaço que os cerca, ou como eles contém uma parte do espaço contínuo infinito em uma espécie de recipiente aberto.
Edifícios que provocam um forte impacto transmitem um sentimento intenso da sua qualidade espacial. Eles abraçam o vazio misterioso chamado de espaço de uma maneira especial e o fazem vibrar.
Razão prática
Projetar é inventar. Quando eu ainda estava na escola de artes e ofícios, nós tentávamos seguir esse princípio. Nós procurávamos novas soluções para cada problema. Nós sentíamos que era importante ser vanguardista. Foi só mais tarde que me vi obrigado a constatar que são poucos problemas arquitetônicos cuja uma solução válida ainda não foi encontrada.
Em retrospecto, minha formação em design parece de alguma forma a-histórica. Nossos modelos foram os pioneiros e inventores da “Das Neue Bauen” (2). Nós considerávamos história da arquitetura como parte de uma educação geral, e que tinha pouca influência em nosso trabalho como projetistas. Portanto, nós frequentemente inventávamos o que já havia sido inventado, e nós tentávamos inventar o não inventável.
Esse tipo de treinamento em design tem seu valor educacional. Mais tarde, no entanto, fizemos bem em nos tornarmos familiarizados com a base enorme de conhecimento e experiência presente na história da arquitetura. Eu acredito que se integrarmos essa base em nosso trabalho, nós temos mais chance de fazer uma contribuição genuinamente nossa.
No entanto, arquitetura não é um processo linear que leva a história arquitetônica de maneira mais ou menos lógica e direta a novas construções. Na busca pela arquitetura que eu imagino, frequentemente experiencio momentos sufocantes de vazio. Nada que eu pense como referência parece corresponder com que eu quero e que ainda não consigo imaginar. Nesses momentos, tento me livrar do conhecimento acadêmico sobre arquitetura que eu adquiri porque ele de repente começa a me segurar. E isso ajuda. Consigo respirar com mais liberdade. Sinto um sopro do antigo sentimento familiar dos pioneiros e inventores. Projetar se torna novamente invenção.
O ato criativo pelo qual um trabalho de arquitetura passa a existir vai além de todo conhecimento técnico e histórico. Seu foco é no diálogo com os temas do nosso tempo. No momento de sua criação, a arquitetura está atada de uma maneira especial ao presente. Ela reflete o espírito do seu inventor e dá as suas próprias respostas às perguntas do nosso tempo, através da sua forma funcional e aparência, sua relação com outros trabalhos de arquitetura e com o lugar onde ela está erguida.
As respostas a essas perguntas, que eu posso formular como arquiteto, são limitadas. Nosso tempo de mudanças e transições não permite grandes gestos. Restam apenas poucos valores comuns que nós todos ainda compartilhamos sobre como podemos construir. Portanto, eu rogo por um tipo de arquitetura de razão prática baseadas nos fundamentos que nós ainda sabemos, entendemos e sentimos. Eu observo cuidadosamente a aparência concreta do mundo, e nos meus edifícios eu tento realçar o que parece ter valor, corrigir o que é perturbador, e criar de novo o que nós sentimos que está faltando.
Percepções melancólicas
O filme “O Baile” (3) de Ettore Scola conta a história da Europa ao longo de 50 anos sem nenhum diálogo e uma unidade completa de espaço. Se não me falha a memória, o filme consiste apenas em música e o movimento das pessoas dançando e se deslocando. Nós permanecemos no mesmo cômodo com as mesmas pessoas ao longo do filme, enquanto o tempo passa e os dançarinos envelhecem.
O foco do filme está nos seus personagens principais. Mas é o salão de dança, com seu piso de cerâmica e seus painéis, as escadas nos fundos e a pata de leão na lateral que cria a atmosfera densa e poderosa do filme. Ou será que é o oposto? São as pessoas que dão essa atmosfera particular ao cômodo?
Faço essa pergunta porque estou convencido de que um bom edifício deve ser capaz de absorver os traços da vida humana e assim assumir uma riqueza específica.
Naturalmente, nesse contexto eu penso no desgaste do tempo nos materiais, nos inumeráveis pequenos arranhões nas superfícies, do verniz que se tornou opaco e quebradiço, e dos cantos polidas pelo uso. Mas quando fecho meus olhos e tento esquecer tanto desses traços físicos quanto das minhas primeiras associações, o que resta é uma impressão diferente, um sentimento mais profundo – uma consciência do tempo passando e das vidas humanas que atuaram nesses lugares e os encheram com uma aura especial. Nesses momentos, a estética da arquitetura, os valores práticos, e o significado histórico e estilístico são de uma importância secundária. O que importa agora é apenas esse sentimento de melancolia profunda. A arquitetura está exposta a vida. Se seu corpo for suficientemente sensível, ele pode assumir uma qualidade que testemunha a realidade de uma vida passada.
Passos deixados para trás
Quando eu trabalho em um projeto, me permito ser guiado por imagens e atmosferas que me recordo e que posso relacionar ao tipo de arquitetura que estou à procura. A maioria das imagens que vêm a minha mente tem origem na minha experiência subjetiva, e raramente estão acompanhadas por algum comentário arquitetônico compartilhada pela memória de outros. No momento em que estou projetando, eu tento identificar o que essas imagens significam para que assim eu possa estudar como criar uma variedade de atmosferas e formas visuais.
Depois de um certo tempo, o objeto que estou projetando assume algumas das qualidades das imagens que eu utilizo como modelo. Se eu puder encontrar um jeito significativo de interligar e sobrepor essas qualidades, o objeto vai assumir alguma profundidade e qualidade. Se eu quiser alcançar esse efeito, as características que eu estou dando ao projeto devem mesclar e harmonizar com a estrutura formal e construtiva do edifício terminado. Forma e construção, aparência e função não estão mais separadas. Elas pertencem unidas e configuram um todo.
Quando olhamos um edifício finalizado, nossos olhos, guiados por nossa mente analítica, tendem a vagar e a procurar detalhes para se fixar. Porém, a síntese do todo não se torna compreensível através de detalhes isolados. Tudo se refere a tudo.
Nesse momento, a imagem inicial desaparece. Os modelos, palavras e comparações necessárias para a criação do todo desaparecem como passos que foram deixados para trás. O novo edifício assume a posição focal e é ele mesmo. Sua história começa.
Resistência
Eu acredito que a arquitetura hoje necessita refletir sobre as tarefas e possibilidades inerentemente suas. A arquitetura não é um veículo ou um símbolo para coisas que não pertencem a sua essência. Numa sociedade que celebra o não essencial, a arquitetura pode apresentar resistência, contrariar o desperdício de formas e significados e falar sua própria linguagem.
Eu acredito que a linguagem da arquitetura não é uma questão de um estilo específico. Todo edifício é construído para um uso específico em um lugar específico e para uma sociedade específica. Meus edifícios tentam responder as questões que emergem desses simples fatos tão precisa e criticamente quanto podem.
Literatura
O menino que andava pelas sombras - Natalia Furtado
Começou quando saía para o colégio, a mãe se despediu com uma dessas tantas expressões de mães: “vai pela sombra”. Incitado pelo desespero do escaldante sol de janeiro no Centro da cidade do Rio de Janeiro, levou ao pé da letra os dizeres e passou a procurar a calçada mais sombreada para fazer aquele caminho. Assim, evitaria chegar suado na aula, acompanhado do odor tão injusto para meninos de 12 anos e com a blusa amarelada debaixo dos braços. Já bastava ser motivo de chacota por conta do seu bigode que passava a nascer sem tomar forma. Primeiro, as árvores o ajudavam, em seguida eram muros, depois casas, até um poste que o acobertava sob medida na espera do sinal.
A volta era mais amena, mas aquilo foi deixando de ser um instinto para virar um jogo. Tratava-se de observar as tantas variáveis: a inclinação do Sol, o andar de pessoas à sua frente, novas rotas possivelmente mais sombreadas. Se fosse um campeonato, sairia à frente não só por ser o inventor do jogo, mas por sua habilidade nata. Sim, ganharia o título certamente. Porém, mais fácil do que isso, era ser o único competidor e não compartilhar esse jogo secreto com ninguém. Assim, em sua imaginação, já era o vencedor, ainda que jogasse sozinho, não se frustrando como em outras brincadeiras com os colegas.
Então, todo dia de verão, aquele jogo se tornou mais divertido do que qualquer aula. Chegava atrasado na aula, mas provaria que não era do tipo que precisava prestar muita atenção para ir bem nas matérias. Iria pela sombra aí também, eles perceberiam nas provas. Na aula, quando o professor perguntava algo da matéria para a turma, preferia ficar calado, não levantava a mão mesmo sabendo as respostas.
Na hora do recreio, iria propor a sua amada Soninha que brincassem de procurar sombras juntos pelo pátio. Acharia um jogo estranho? Finalmente criou coragem e foi propor: “vamos!”, respondeu ela animada. Seu coração acelerou, imaginou toda uma vida dos dois numa casa de praia na rede com sombra. Passaram a brincar, e em dois minutos ela logo se distraiu e “foi queimada pelo Sol, ah, perdeu”. “Ai, não acredito. A gente pode brincar agora de só pisar no chão verde? ”. Quando percebeu que só teria parte verde no Sol, hesitou e quase aceitou por tamanho afeto a colega, mas salvo pelo sinal, voltaram à sala.
Ao chegar em casa, ligou o computador e resolveu que apagaria todas as fotos da rede social. Releu suas antigas publicações, como lhe soavam estranhas e bobas. Resolveu ficar mais pelas sombras ali também, seria sua chance de falar mais o que pensa, o que sente, de se aproximar da colega que gostava. Por pensar cinco vezes, acabou não postando nada e não mandando mensagem para ninguém. Nada é tão bom que passe pelo crivo do pensamento cinco vezes.
Ficou no computador, até que seus pais o forçaram a desligar e a acompanhá-los à rua no Carnaval em seu novo bairro. Não entendia o porquê de tanta aglomeração e da vontade de sentir aquele calor. Mas o fato é que às vezes não adianta ir contra a ordem dos pais. Andou pela sombra até onde pôde, os pais colocaram mesa e cadeira na rua, o menino logo correu para a tenda com sombra que avistou. Ficou lá por dez minutos até que um menino de sua idade o convidou para completar o time. Primeiro, negou. Não sabia explicar, mas algo empurrava-o em direção àquele outro jogo. Resolveu que era hora de perder aquela brincadeira, de ser “queimado pelo sol”, e de começar uma outra. Arthur alcançou o colega que havia feito o convite e foi apresentado aos demais do grupo. Ficou encarando a tenda que deixou para trás e o chão, resmungando para si mesmo, desejando fervorosamente que aquilo fosse uma boa ideia.
Música
Panorama do Choro Paulistano Contemporâneo
Panorama do Choro Paulistano Contemporâneo foi um projeto do Selo SESC para fazer um registro da cena de choro de compositores paulistas ou que moram no Estado, em um DVD e dois CDs.
Os idealizadores do Panorama, Roberta Valente e Yves Finzetto, contam que buscavam registrar a nova cena do choro da cidade em uma coletânea como não havia sido feito antes. Segundo Valente, um diferencial da gravação é o encontro das gerações que se influenciam mutuamente:
“Uma coisa muito legal desse trabalho é que o Laércio é uma grande referência para o Proveta, e para a minha geração os dois são ídolos. O Izaías é uma referência para bandolinistas mais jovens como o Danilo Brito, o Proveta é uma referência para o Poleto e para o Ale. Enfim… Existe esse diálogo também entre os compositores, e todo mundo aqui de alguma maneira influenciou várias gerações.”
As faixas são gravadas por um sexteto base e convidados. A banda da casa, o Sexteto Panorama, formado para a gravação, é formado por: Alexandre Ribeiro (clarinete e clarone), Gian Corrêa (violão de sete cordas), Henrique Araújo (bandolim, cavaquinho e banjo), João Poleto (flauta, sax tenor e sax soprano), Roberta Valente e Yves Finzetto (percussão).
O projeto conta com convidados ilustres da cena do choro como o saxofonista e lidar da Banda Mantiqueira, Nailor Proveta, o integrante do grupo Metá Metá Thiago França, o acordeonista Mestrinho, Luizinho 7 Cordas um dos grandes nomes do instrumento no Brasil, e outros.
Destaque para a faixa Irmãos de Briga, composta por Thiago França em homenagem ao flautista Bira Nascimento e ao bandolinista Henrique Araújo. A música é um choro maxixe em três partes, com uma harmonia que remete ao repertório tradicional de choro (aos moldes de O Bom Filho à Casa Torna de Zé da Velha e Silvério Pontes) mas com espaço para um solo no meio da forma trazendo uma musicalidade moderna.
Artes Visuais
bichos voadores - Manon Bourgeade
Esta série de imagens nasceu a partir do livro Cartas a um jovem poeta, de Rainer Maria Rilke, inspiração literária para criar um processo de desenhos que pudessem falar do desenho (assim como o livro fala da escrita), evidenciando o caminho do traço e as escolhas de composição. Ao observar as semelhanças entre as mesas do escritor e do desenhista, foram elaboradas ilustrações com traços em grafite, compondo um cruzamento gráfico dos ofícios. Posteriormente, os desenhos foram cortados para que novas formas pudessem surgir a partir da mistura de seus retalhos – como peças de um quebra-cabeça.
Através da sobreposição de linguagens, algo de estranho e surpreendente aparece nas junções revelando o próprio processo de criação. As novidades vão surgindo espontaneamente ao longo do caminho mas nascem também da insistência, como podemos aprender com o Rilke: a criação como persistência, é pela persistência no trabalho que o novo pode emergir, é na repetição que a diferença pode se criar.









Poesia
walkwoman - Ceci Penido, Maria Carolina Werneck
você imagina uma pintura
e perde o sono
pois não consegue descrevê-la
com as palavras ou as mãos
eu, que cerro os olhos,
mas desperto
bem antes do sol,
imagino
uma casa
vermelha
uma montanha
em 24 tons de verde
este áudio – sonho
pode ser ouvido
uma vez e meia ou
até duas vezes mais
rápido
o que pode afligir
amigas
não me assusta
pois já não há tantas
ou porque sejam já
tão intensas que
ouvir um áudio
2x mais rápido
pode ser até
bem divertido.
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