Olá! Bem vindo ao boletim #17 da revista USINA!
Mensalmente enviamos uma seleção de conteúdos da revista USINA, como entrevistas, ensaios, artes visuais, instantâneos e tudo mais.
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Nessa edição: entrevista com Lisciel Franco, criador do estúdio de gravação analógico ForestLab, o ensaio visual Catimbó Zen de Déa Trancoso, a fotografia surrealista do português Fernando Lemos, um conto de Thomas Ilg, o álbum e faixa homônimos Pagode Jazz Sardinha’s Club, e um poema de Thadeu C Santos
Entrevista
Do digital ao analógico: entrevista com Lisciel Franco
Lisciel Franco é um artista da eletrônica e do som, responsável pela criação de um dos maiores (e melhores) estúdios analógicos do mundo: o ForestLab. Com formação em engenharia e uma experiência de mais de 30 anos em gravação, Lisciel é o verdadeiro exército de um homem só – é ele o responsável pela gravação, manutenção e (às vezes) construção dos equipamentos, limpeza do estúdio, mixagem e masterização. Ao mesmo tempo, é apoiado e incentivado por uma legião de pessoas ao redor do país, que respeitam e compreendem a importância do seu trabalho – único na história cultural brasileira.
Dedicando sua vida ao cenário independente, Lisciel ressalta nessa conversa a paixão pela música e nos conta um pouco da sua trajetória, desde a experiência em outros estúdios até a construção do ForestLab e sua manutenção. A entrevista foi realizada em novembro de 2023 na gravação da demotape da banda carioca Samba Esquema Russo, que também serviu de exemplo para Lisciel compartilhar como funciona seu processo criativo de gravação.
Pensamento
Catimbó Zen - Déa Trancoso
O ensaio "Catimbó Zen" mergulha nas complexas interações entre imagem e linguagem, explorando conceitos filosóficos através das obras de René Magritte e Paul Klee, com análises de Michel Foucault e Walter Benjamin. Dea tece uma rede de referências que vai de Exu a Rumi, e de Lévi-Strauss a Foucault, questionando as fronteiras entre o visível e o invisível, e desafiando as noções tradicionais de representação e imitação na arte.
O ensaio propõe uma reflexão profunda sobre a produção artística e a estética xamã, revelando como esses elementos se conectam com a filosofia e a espiritualidade. "Catimbó Zen" convida os leitores a reconsiderar suas percepções sobre a arte e a existência, mostrando como a arte pode ser um veículo para a regeneração e a cura, através de uma perspectiva que transcende as dicotomias ocidentais e abre caminho para uma compreensão mais integrada e holística do mundo.
Fotografia
Luz e Sombra - Fernando Lemos
Fernando Lemos (1926-2019) foi um artista nascido em Lisboa, Portugal. Por conta de sua divergência à ditadura do Estado Novo de Salazar, saí do país em exílio na década de 50, se estabelecendo na cidade de São Paulo. Atuou como designer, pintor, poeta e fotógrafo.
No final da década de 40, adquire uma câmera fotográfica e passa a experimentar com linguagens de sobreposição e alto contraste entre luz e sombra, retomando técnicas exploradas por outro fotógrafo associado ao surrealismo: Man Ray. Apesar de não ser pioneiro, a obra fotográfica de Fernando Lemos possui uma linguagem própria. Sua produção breve com o formato (Lemos explorou a fotografia apenas entre 1949-1952) a torna ainda mais interessante por ser um resultado de uma experimentação pontual em um momento de intensa criação artística.
A USINA selecionou algumas fotografias dessa época presentes na coleção Berardo.
Literatura
O Diabo, provavelmente, em terra de Brasil
Leia o conto completo na USINA:
"Por entre essas terras aí, tinha homem com pele de boi. Se eu tivesse visto teria me perguntado o que era aquilo, mas eu tenho certeza que a resposta teria sido insatisfatória. Meu Deus! Homem com pele de boi pra mim é o próprio Cão disfarçado de demônio, e isso não é pouca coisa não!
Esse homem, por lá dos seus vinte anos, foi quem chegou numa cidadezinha do interior do país carregando uma pele de boi e uma faca. Assim que viu de cima do morro os telhados vermelhos das casas da cidade ele desceu e se prostrou no meio da praça. Com pele e faca na mão. E de lá mandou esperar o comboio de gente que vinha vê-lo fazer a sua mágica."
Música
Pagode Jazz Sardinha’s Club
O grupo de música instrumental Pagode Jazz Sardinha’s Club, formado em 1997, é composto por Rodrigo Lessa (bandolim, bandarra, violão de aço e voz), Eduardo Neves (saxofone e flauta), Roberto Marques (trombone), Bernardo Bosísio (violão), Edson Menezes (baixo) Xande Figueiredo (bateria) e Marcos Esguleba (percussão).
O nome do grupo homenageia o Beco das Sardinhas, tradicional ponto da boemia carioca no centro da cidade, especializado em sardinha na brasa. O projeto é nomeado a partir da música homônima, “Pagode Jazz Sardinha Club”, composta por Rodrigo Lessa, Eduardo Neves e Mauro Aguiar. Misturando samba, funk, jazz, choro e bossa nova, a faixa é um verdadeiro mosaico de diversas linguagens musicais. A faixa foi indicada como “Melhor Música Instrumental” para o “Prêmio Sharp 99”.
Poesia
Independência da Bahia - Thadeu C Santos
Poema da série “História, poema” publicada pela USINA
Assim que chego no ônibus me vem a ideia de um texto. Estou sentado no banco da janela do 613. Me lembro de uma amiga, Andressa, que tem o dom da vidência em sonhos. Me lembro que enquanto ela dormia, ela via o que eu pensava. Sentia quando eu estava muito preocupado. Acertava com o quê. Ela acertava sobre quem eu estava com saudade. Em quem eu estava pensando poucos minutos antes de ela acordar. Eu não precisava dizer nada e ela adivinhava. Mas não só. Ela dava conselhos. Dizia que via nos sonhos. Antecipou problemas. Já sabia de tudo o que daria errado e viu situações que, futuras, aconteceram. Escolho um banco no ônibus e sei que não tenho saída. Não existe hora para escrever. Andressa me ensinou que o que tento fazer agora já está feito. Me lembro da Andressa falando para eu procurar um emprego. Para que eu não ficasse parado. Para que eu escrevesse e não desistisse. Quando me pego animado com uma ideia, confio que alguém está querendo falar comigo. Que alguém está ouvindo o que estou contando. Sei que alguém no passado está sonhando agora. Está falando de mim para outra pessoa.
O que é a USINA?
A USINA existe desde 2013 com o intuito de contribuir para a convergência de discussões contemporâneas e afirmar nas artes e no pensamento um lugar de brincadeira, exercício, experimentação e diversidade.
Contos, poemas, traduções, entrevistas, ensaios, artes visuais, curtas metragens, fotografias: propomos através de vários meios e temas a articulação entre diferentes artistas, obras, tempos e tradições.
USINA, pode tudo só não pode qualquer coisa.
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